Saudade que o tempo não mata

Foi com grande pesar que comecei o meu dia lendo a notícia de rodapé que dava conta do possível afastamento do eterno capitão. Bastou-me lê-la na tv, nas capas dos jornais, para começar a sentir a saudade invadir a minha alma. Sou uma nostálgica por natureza, apesar de aceitar com bastante naturalidade que a vida tem que seguir o seu rumo. O futebol também não pode parar. Os jogadores vêm e vão, nascem e morrem, mas a alma permanece incólume, a paixão não morre, o amor aumenta cada dia da nossa vida.
Como aprendiz de arquitectura, penso que o futebol tem uma definição tão ambígua como a arquitectura e no fundo são dois conceitos contíguos. Futebol é arte, futebol é ciência, futebol é estética, futebol é projecto, futebol é aperfeiçoamento, futebol é corpóreo, futebol é espiritual, futebol é coração, futebol é razão, futebol é aprendizagem, futebol é cultura, futebol é negócio, futebol é vida, futebol também é SAUDADE. Esta é a minha visão do futebol e mais diria se soubesse expressar a miscelânia de sentimentos que me vai na alma. Infelizmente, hoje em dia muitos o vêem como um dos maiores, senão o maior negócio do mundo e para os profissionais haja em primeiro lugar milhares no bolso e de seguida dedicação. Se a devoção prevalecesse, alheia a qualquer interesse ou protagonismo, poderíamos eternizar a magia das décadas de 60, 70... por este tempo fora.
Nuno Gomes  não é simplesmente um jogador, antes de qualquer classe ele é um de nós, benfiquista de corpo e alma. Tenho a certeza que mesmo habitando no banco da Luz, senta-se nele como um adepto e nunca perdeu a chama imensa. No entanto o banco não é o lugar de sonho para um futebolista da envergadura do nosso 21. Por isso sou a favor, plenamente, que o Nuno siga viagem para outro futebol que o acolha devidamente, e espero que o Benfica trate este homem com a dignidade que ele merece. Alguém que sempre fez os possíveis e os impossíveis sentindo com amor o peso do brasão Glorioso ao peito, granjeia o afecto e o respeito dos adeptos e do clube. Fico triste que o final do Nuno não seja o que ele e muitos de nós desejaríamos, mas julgo que em toda a alma flameja uma chamazinha de esperança. Oxalá venha a tempo de jogar novamente por Portugal!
Mas não é só do Capitão que sinto saudades, também a notícia da possível saída (?) de Jara deixou-me cabisbaixa. Ou era dos meus olhos ou eu via realmente um diamante em bruto que cintilava no relvado à espera de ser lapidado. Algo nele mexia comigo. Apesar de não ter chegado a enraizar-se na equipa, aquele moço prometia grande futebol. Certamente que o Jara suaria a camisola com honra e brilho. Oxalá vingue no Benfica!
 E são estas saudades que o tempo não mata. Um porque deu tudo e poderia dar mais um pouco e outro porque deu um pouco e poderia dar tudo.

A vida continua...